quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O que é Espiritismo?

É o conjunto de princípios e leis, revelados pelos Espíritos Superiores, contidos nas obras de Allan Kardec que constituem a Codificação Espírita:

• O Livro dos Espíritos.
• O Livro dos Médiuns.
• O Evangelho segundo o Espiritismo.
• O Céu e o Inferno e A Gênese.

O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.
O Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança. Allan Kardec.

Revela conceitos novos e mais aprofundados a respeito de Deus, do Universo, dos Homens, dos Espíritos e das Leis que regem a vida.

Revela ainda:

• O que somos.
• De onde viemos.
• Para onde vamos.
• Qual o objetivo da nossa existência.
• Qual a razão da dor e do sofrimento.

Trazendo conceitos novos sobre o homem e tudo o que o cerca, o Espiritismo toca em todas as áreas do conhecimento, das atividades e do comportamento humanos, abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade.

Pode e deve ser estudado, analisado e praticado em todos os aspectos fundamentais da vida, tais como:

• Científico.
• Filosófico.
• Religioso.
• Ético.
• Moral.
• Educacional.
• Social.

Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas:

• Eterno.
• Imutável.
• Imaterial.
• Único.
• Onipotente.
• Soberanamente justo e bom.



O Universo é criação de Deus. Abrange todos os seres racionais e irracionais, animados e inanimados, materiais e imateriais.
Além do mundo corporal, habitação dos Espíritos encarnados, que são os homens, existe o mundo espiritual, habitação dos Espíritos desencarnados.
No Universo há outros mundos habitados, com seres de diferentes graus de evolução:

• Iguais.
• Mais evoluídos.
• Menos evoluídos.


Todas as leis da natureza são leis divinas, onde Deus é o seu autor. Abrangem tanto as leis físicas como as leis morais.
O homem é um Espírito encarnado em um corpo material. O perispírito é o corpo semimaterial que une o Espírito ao corpo material.
Os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Constituem o mundo dos Espíritos, que preexiste e sobrevive a tudo.
Os Espíritos são criados simples e ignorantes. Evoluem, intelectual e moralmente, passando de uma ordem inferior para outra mais elevada, até a perfeição, onde gozam de inalterável felicidade.
Os Espíritos preservam sua individualidade, antes, durante e depois de cada encarnação.
Os Espíritos reencarnam tantas vezes quantas forem necessárias ao seu próprio aprimoramento.
Os Espíritos evoluem sempre. Em suas múltiplas existências corpóreas podem estacionar, mas nunca regridem. A rapidez do seu progresso intelectual e moral depende dos esforços que façam para chegar à perfeição.
Os Espíritos pertencem a diferentes ordens, conforme o grau de perfeição que tenham alcançado:

• Espíritos Puros.
• Que atingiram a perfeição máxima.
• Bons Espíritos (o desejo do bem é o que predomina).
• Espíritos Imperfeitos (caracterizados pela ignorância, pelo desejo do mal e pelas paixões inferiores).

As relações dos Espíritos com os homens são constantes e sempre existiram. Os bons Espíritos nos atraem para o bem, sustentam-nos nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação. Os imperfeitos nos induzem ao erro.
Jesus é o guia e modelo para toda a Humanidade. E a Doutrina que ensinou e exemplificou é a expressão mais pura da Lei de Deus.
A moral do Cristo, contida no Evangelho, é o roteiro para a evolução segura de todos os homens, e a sua prática é a solução para todos os problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela Humanidade.
O homem tem o livre-arbítrio para agir, mas responde pelas conseqüências de suas ações.
A vida futura reserva aos homens penas e gozos compatíveis com o procedimento de respeito ou não à Lei de Deus.
A prece é um ato de adoração a Deus. Está na lei natural e é o resultado de um sentimento inato no homem, assim como é inata a idéia da existência do Criador.
A prece torna melhor o homem.
Aquele que ora com fervor e confiança se faz mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe envia bons Espíritos para assisti-lo.
É este um socorro que jamais se lhe recusa, quando pedido com sinceridade.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Reformador (Livro)

REFORMADOR
ISSN 1413-1749
REVISTA DE ESPIRITISMO CRISTÃO
FUNDADA EM 21-1-1883
ANO 116 / JANEIRO, 1998 / Nº 2.026
Fundador: Augusto Elias da Silva
Propriedade e orientação da
FEDERAÇÃO ESPÍRITA
BRASILEIRA
DIREÇÃO E REDAÇÃO
Rua Souza Valente, 17
20941-040 - Rio - RJ - Brasil
INTERNET
PÁGINA NA WEB:
http://www.febrasil.org.br

Mensagens de André Luiz

"Seja útil em qualquer lugar, mas não guarde a pretensão de agradar a todos; não intente o que o próprio Cristo ainda não conseguiu."

"Aprenda a ceder em favor de muitos, para que alguns intercedam em seu benefício nas situações desagradáveis."

"Proceda com inteligência em todas as situações. Não se esqueça, porém, de que muitos homens inteligentes são meros velhacos. "

"Dê suas lições sensatamente, na escola da vida, enquanto o livro das provas repousa em suas mãos. Aprender é uma bênção e há milhares de irmãos, não longe de você, aguardando uma bolsa de estudos na reencarnação."

"Use calma. A vida pode ser um bom estado de luta, mas o estado de guerra nunca será um vida boa."

"Busque agir para o bem, enquanto você dispõe de tempo. É perigoso guardar uma cabeça cheia de sonhos, com as mãos desocupadas."

"Guarde o equilíbrio. Paixões e desejos desenfreados são forças de arrasamento na Criação Divina."

"Procure um delinqüente e encontrará muitos malfeitores. É necessário, então, que você possua imenso cabedal de amor para renová-los, sem fazer-se criminoso também.

"Utilize o corpo físico para recolher as bênçãos da vida Mais Alta, enquanto suas peças se ajustam harmoniosamente. O vaso que reteve essências sublimes ainda espalha perfume, depois de abandonado."

"Não é o companheiro dócil que exige a sua compreensão fraternal mais imediata. É aquele que ainda luta por domar a ferocidade da ira, dentro do próprio coração."

"Não basta que sua boca esteja perfumada. É imprescindível que permaneça incapaz de ferir."

"Não seja intolerante em situação alguma. O relógio bate, incessante, e você será surpreendido por inúmeros problemas difíceis em seu caminho e no caminho daqueles que você ama."

"Não viva pedindo orientação espiritual, indefinidamente. Se você já possui duas semanas de conhecimento cristão, sabe, à saciedade, o que fazer".

"Não lhe fira a calúnia. Viva de modo que ninguém possa acreditar no caluniador."

"Se você considerar excessivamente as críticas do inferior, suporte sem mágoa as injunções do plano a que se precipitou."

"Ampare fraternalmente o invejoso; o despeito é indisfarçável homenagem ao mérito e, pagando semelhante tributo, o homem comum atormenta-se e sofre."

"Evite a impaciência. Você já viveu séculos incontáveis e está diante de milênios sem fim."

"Nas lutas habituais, não exija a educação do companheiro. Demonstre a sua."

"Seus dias são marcas no caminho evolutivo. Não se esqueça de que compactas assembéias de companheiros encarnados e desencarnados conhecem-lhe a personalidade e seguem-lhe a tragetória pelos sinais que você está fazendo."

"Amar não é desejar. É compreender sempre, dar de si mesmo, renunciando aos próprios caprichos e sacrificar-se para que a luz divina do verdadeiro resplandeça."

"No desempenho dos deveres cristãos, não aguarde recursos externos para cumpri-los. O melhor patrimônio que você pode dar às boas obras é o seu próprio coração."

"Não converta seus ouvidos num paiol de boatos. A intriga é uma víbora que se aninhará em sua alma."

"O maledicente desejará que você observe, tanto quanto ele, o lado desagradável da vida alheia."

"Não se aflija pela aquisição de vantagens imediatas na experiência terrestre. Os museus permanecem abarrotados de mantos de reis e de outros "cadáveres de vantagens mortas".

"Sua capacidade de orientar disciplinará muita gente, melhorando personalidades; contudo, se você não se disciplinar, a Lei o defrontará com o mesmo rigor com que ela se utiliza de você para aprimorar os outros."

"Lembre-se de que você mesmo é o melhor secretário de sua tarefa, e o maior inimigo de suas realizações mais nobres."

"O homem imperfeitamente espiritualizado sempre busca igualar os semelhantes a si mesmo. Lembre-se, contudo, de que você é você, com tarefa original e responsabilidades diferentes e, se pretende a felicidade real, não deve esquecer a consulta aos padrões do bem, com o Cristo, em todas as horas de sua vida."

"É muito provável que, por enquanto, seja plenamente dispensável a sua cooperação no paraíso. É indiscutível, porém, a realidade de que, no momento, o seu lugar de servir e aprender, ajudar e amar, é na Terra mesmo."

"A proteção da Esfera Superior é inegável para todos nós que ainda nos movimentamos na sombra. Ai de nós, todavia, se não procurarmos as bênçãos da luz!...

Espiritismo na sua mais simples expressão

O Espiritismo na sua mais simples expressão - Allan Kardec

1. Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas.
Deus é eterno, único, imaterial, imutável, todo-poderoso, soberanamente justo e bom. Deve ser infinito em todas as suas perfeições, pois se supuséssemos um único de seus atributos imperfeito, ele não seria mais Deus.
2. Deus criou a matéria que constitui os mundos; também criou seres inteligentes que chamamos de Espíritos, encarregados de administrar os mundos materiais segundo as leis imutáveis da criação, e que são perfectíveis por sua natureza. Aperfeiçoando-se, eles se aproximam da Divindade.
3. O espírito propriamente dito é o princípio inteligente; sua natureza íntima nos é desconhecida; para nós ele é imaterial, porque não tem nenhuma analogia com o que chamamos matéria.
4. Os Espíritos são seres individuais; têm um envoltório etéreo, imponderável, chamado perispírito, espécie de corpo fluídico, semelhante à forma humana. Povoam os espaços, que percorrem com a rapidez do raio, e constituem o mundo invisível.
5. A origem e o modo de criação dos Espíritos nos são desconhecidos; só sabemos que são criados simples e ignorantes, quer dizer, sem ciência e sem conhecimento do bem e do mal, mas com igual aptidão para tudo, pois Deus, em sua justiça, não podia isentar uns do trabalho que teria imposto aos outros para chegar à perfeição. No princípio, ficam em uma espécie de infância, sem vontade própria e sem consciência perfeita de sua existência.
6. Desenvolvendo-se o livre arbítrio nos Espíritos ao mesmo tempo que as idéias, Deus lhes diz: "Vocês podem aspirar à felicidade suprema, assim que tiverem adquirido os conhecimentos que lhes faltam e cumprido a tarefa que lhes imponho. Então trabalhem para seu engrandecimento; este é o objetivo; irão atingi-lo seguindo as leis que gravei em sua consciência."
Em conseqüência de seu livre arbítrio, uns tomam o caminho mais curto, que é o do bem, outros o mais longo, que é o do mal.
7. Deus não criou o mal; estabeleceu leis, e essas leis são sempre boas, porque ele é soberanamente bom; aquele que as observasse fielmente seria perfeitamente feliz; mas os Espíritos, tendo seu livre arbítrio, nem sempre as observaram, e o mal veio de sua desobediência. Pode-se então dizer que o bem é tudo o que é conforme à lei de Deus e o mal tudo o que é contrário a essa mesma lei.
8. Para cooperar, como agentes do poder divino, com a obra dos mundos materiais, os Espíritos revestem-se temporariamente de um corpo material. Pelo trabalho de que sua existência corpórea necessita, eles aperfeiçoam sua inteligência e adquirem, observando a lei de Deus, os méritos que devem conduzi-los à felicidade eterna.
9. A encarnação não foi imposta ao Espírito, no princípio, como uma punição; ela é necessária ao seu desenvolvimento e para a realização das obras de Deus, e todos devem resignar-se a ela, tomem o caminho do bem ou do mal; só que os que seguem o caminho do bem, avançando mais rapidamente, demoram menos a chegar ao fim e lá chegam em condições menos penosas.
10. Os Espíritos encarnados constituem a humanidade, que não está circunscrita à Terra, mas que povoa todos os mundos disseminados peloespaço.
11. A alma do homem é um Espírito encarnado. Para auxiliá-lo no cumprimento de sua tarefa; Deus lhe deu, como auxiliares, os animais; que lhe são submissos e cuja inteligência e caráter são proporcionais às suas necessidades.
12. O aperfeiçoamento do Espírito é o fruto de seu próprio trabalho; não podendo, em uma única existência corpórea, adquirir todas as qualidades morais e intelectuais que devem conduzi-lo ao objetivo, ele aí chega por uma sucessão de existências, dando em cada uma delas alguns passos adiante no caminho do progresso.
13. Em cada existência corpórea o Espírito deve cumprir uma missão proporcional a seu desenvolvimento; quanto mais ela for rude e laboriosa, maior seu mérito em cumpri-la. Cada existência é, assim, uma prova que o aproxima do alvo. O número de suas existências é indeterminado. Depende da vontade do Espírito de abreviá-las, trabalhando ativamente em seu aperfeiçoamento moral; assim como depende da vontade do operário que tem de realizar um trabalho abreviar o número de dias para sua execução.
14. Quando uma existência foi mal empregada, não aproveitou o Espírito, que deve recomeçá-la em condições mais ou menos penosas, em razão de sua negligência e de sua má vontade; assim é que, na vida, podemos ser obrigados a fazer no dia seguinte o que não fizemos no anterior, ou a refazer o que fizemos mal.
15. A vida espiritual é a vida normal do Espírito: ela é eterna; a vida corpórea é transitória e passageira: é apenas um instante na eternidade.
16. No intervalo de suas existências corpóreas, o Espírito é errante. Não por duração determinada; nesse estado o espírito é feliz ou infeliz de acordo com o bom ou mau emprego de sua última existência; ele estuda as causas que apressaram ou retardaram seu desenvolvimento; toma resoluções que tentará pôr em prática na próxima encarnação e escolhe, ele mesmo, as provas que considera mais adequadas ao seu progresso; mas algumas vezes ele se engana, ou sucumbe não mantendo como homem as resoluções que tomou como Espírito.
17. O Espírito culpado é punido pelos sofrimentos morais no mundo dos Espíritos, e pelas penas físicas na vida corpórea. Suas aflições são conseqüências de suas faltas, quer dizer, de sua infração à lei de Deus; de modo que constituem simultaneamente uma expiação do passado e uma prova para o futuro é assim que o orgulhoso pode ter uma existência de humilhação, o tirano uma vida de servidão; o rico mau uma encarnação de miséria.
18. Há mundos apropriados aos diferentes graus de avanço dos Espíritos, onde a existência corpórea acha-se em condições muito diferentes. Quanto menos o Espírito é adiantado, mais os corpos de que se reveste são pesados e materiais; à medida em que se purifica, passa para mundos superiores moral e fisicamente. A Terra não é o primeiro nem o último, mas um dos mundos mais atrasados.
19. Os Espíritos culpados são encarnados em mundos menos adiantados, onde expiam suas faltas pelas tribulações da vida material. Esses mundos são para eles verdadeiros purgatórios, dos quais depende deles sair, trabalhando em seu progresso moral. A Terra é um desses mundos.
20. Deus, sendo soberanamente justo e bom, não condena suas criaturas a castigos perpétuos pelas faltas temporárias; oferece-lhes em qualquer ocasião meios de progredir e reparar a mal que elas praticaram. Deus perdoa, mas exige o arrependimento, a reparação e o retorno ao bem, de modo que a duração do castigo é proporcional à persistência do Espírito no mal; conseqüentemente, o castigo seria eterno para aquele que permanecesse eternamente na mau caminho, mas, assim que um sinal de arrependimento entra no coração do culpado, Deus estende sobre ele sua misericórdia. A eternidade das penas deve assim ser entendida no sentido relativo, e não no sentido absoluto.
21. Os Espíritos, encarnando-se, trazem com eles o que adquiriram em suas existências precedentes; é a razão por que os homens mostram instintivamente aptidões especiais; inclinações boas ou más que lhes parecem inatas. As más inclinações naturais são os vestígios das imperfeições do Espírito, dos quais ele não se despojou inteiramente; são também os indícios das faltas que ele cometeu, e o verdadeiro pecado original. A cada existência ele deve lavar-se de algumas impurezas.
22. O esquecimento das existências anteriores é uma graça de Deus que, em sua bondade, quis poupar ao homem lembranças freqüentemente penosas. Em cada nova existência, o homem é o que ele fez de si mesmo; é para ele um novo ponto de partida - ele conhece seus defeitos atuais, sabe que esses defeitos são a conseqüência dos que tinha, tira conclusões do mal que pôde ter cometido, e isso lhe basta para trabalhar, corrigindo-se. Se tinha outrora defeitos que não tem mais, não tem mais que preocupar-se com eles; bastam-lhe as imperfeições presentes.
23. Se a alma ainda não existiu, é que foi criada ao mesmo tempo que o corpo; nessa suposição, ela não pode ter nenhuma relação com as que a precederam. Pergunta-se, então, como Deus, que é soberanamente justo e bom, pode tê-la feito responsável pelo erro do pai do gênero humano, maculando-a com um pecado original que ela não cometeu. Dizendo, ao contrário, que ela traz ao renascer o germe das imperfeições de suas existências anteriores, que ela sofre na existência atual as conseqüências de suas faltas passadas, dá-se do pecado original uma explicação lógica que todos podem compreender e admitir, porque a alma só é responsável por suas próprias obras.
24. A diversidade das aptidões inatas, morais e intelectuais, é a prova de que a alma já viveu; se tivesse sido criada ao mesmo tempo que o corpo atual, não estaria de acordo com a bondade de Deus ter feito umas mais avançadas que as outras. Por que selvagens e homens civilizados, bons e maus; tolos e brilhantes? Dizendo-se que uns viveram mais que os outros e mais adquiriram, tudo se explica.
25. Se a existência atual fosse única e devesse decidir sozinha sobre o futuro da alma para a eternidade, qual seria o destino das crianças que morrem em tenra idade? Não tendo feito nem bem nem mal, elas não merecem nem recompensas nem punições. Segundo a palavra do Cristo, sendo cada um recompensado segundo suas obras, elas não têm direito à felicidade perfeita dos anjos, nem merecem ser dela privadas. Diga-se que poderão, em uma outra existência, realizar o que não puderam naquela que foi abreviada, e não há mais exceções.
26. Pelo mesmo motivo, qual seria a sorte dos cretinos, idiotas? Não tendo nenhuma consciência do bem e do mal, não têm nenhuma responsabilidade por seus atos. Deus seria justo e bom tendo criado almas estúpidas para destiná-las a uma existência miserável e sem compensações? Admita-se, pelo contrário, que a alma do idiota e do cretino é um Espírito em punição dentro de um corpo impróprio para exprimir seu pensamento, onde ele é como um homem fortemente aprisionado por laços, e não se terá mais nada que não seja conforme com a justiça de Deus.
27. Em suas encarnações sucessivas, o Espírito, sendo pouco a pouco despojado de suas impurezas e aperfeiçoado pelo trabalho, chega ao termo de suas existências corpóreas; pertence então à ordem dos Espíritos puros ou dos anjos, e goza simultaneamente da vida completa de Deus e de uma felicidade imperturbável pela eternidade.
28. Estando os homens em expiação na terra, Deus, como bom pai, não os entregou a si mesmos sem guias. Eles têm primeiro seus Espíritos protetores ou anjos guardiães, que velam por eles e se esforçam para conduzi-los ao bom caminho; têm ainda os Espíritos em missão na terra, Espíritos superiores encarnados de quando em quando entre eles para lhes iluminar o caminho através de seus trabalhos e fazer a humanidade avançar. Se bem que Deus tenha gravado sua lei na consciência, ele achou que devia formulá-la de maneira explícita; mandou primeiro Moisés, mas as leis de Moisés estavam ajustadas aos homens de seu tempo; ele só lhes falou da vida terrestre, de penas e de recompensas temporais. O Cristo veio depois completar a lei de Moisés através de um ensinamento mais elevado: a pluralidade das existências[9], a vida espiritual, mas as penas e as recompensas morais. Moisés os conduziu pelo medo, o Cristo pelo amor e pela caridade.
29. O Espiritismo, mais bem entendido hoje, acrescenta, para os incrédulos a evidência à teoria; prova o futuro com fatos patentes; diz em termos claros e sem equívoco o que o Cristo disse em parábolas; explica as verdades desconhecidas ou falsamente interpretadas; revela a existência do mundo invisível ou dos Espíritos, e inicia o homem nos mistérios da vida futura; vem combater o materialismo, que é uma revolta contra o poder de Deus; vem enfim estabelecer entre os homens o reino da caridade e da solidariedade anunciado pelo Cristo. Moisés lavrou, o Cristo semeou, o Espiritismo vem colher.
30. O Espiritismo não é uma luz nova, mas uma luz mais brilhante, porque surgiu de todos os pontos do globo através daqueles que viveram. Tornando evidente o que era obscuro, põe fim às interpretações errôneas, e deve unir os homens em uma mesma crença, porque não há senão um Deus, e suas leis são as mesmas para todos; ele marca enfim a era dos tempos preditos pelo Cristo e pelos profetas.
31. Os males que afligem os homens na terra têm como causa o orgulho, o egoísmo e todas as más paixões. Pelo contato de seus vícios, os homens tornam-se reciprocamente infelizes e punem-se uns aos outros. Que a caridade e a humildade substituam o egoísmo e o orgulho, então eles não quererão mais prejudicar-se; respeitarão os direitos de cada um e farão reinar entre eles a concórdia e a justiça.
32. Mas como destruir o egoísmo e o orgulho, que parecem inatos no coração do homem? - O egoísmo e o orgulho estão no coração do homem, porque os homens são espíritos que seguiram desde o princípio o caminho do mal, e que foram exilados na terra como punição desses mesmos vícios; é o seu pecado original, de que muitos não se despojaram. Através do Espiritismo, Deus vem fazer um último apelo para a prática da lei ensinada pelo Cristo: a lei de amor e de caridade.
33. Tendo a terra chegado ao tempo marcado para tornar-se uma morada de felicidade e de paz, Deus não quer que os maus Espíritos encarnados continuem a trazer para ela a perturbação, em prejuízo dos bons; é por isso que eles deverão deixá-la: Irão expiar seu empedernimento em mundos menos evoluídos; onde trabalharão de novo para seu aperfeiçoamento em uma série de existências mais infelizes e mais penosas ainda que na terra.
Eles formarão nesses mundos uma nova raça mais esclarecida, cuja tarefa será levar o progresso aos seres atrasados que neles habitam, pelos conhecimentos que já adquiriram. Só sairão para um mundo melhor quando tiverem merecido, e assim por diante, até que tenham atingido a purificação completa: Se a terra era para eles um purgatório, esses mundos serão seu inferno, mas um inferno de onde a esperança nunca está banida[10].
34. Enquanto a geração proscrita vai desaparecer rapidamente; surge uma nova geração, cujas crenças serão fundadas no Espiritismo cristão. Nós assistimos à transição que se opera, prelúdio da renovação moral cuja chegada o Espiritismo marca.
MÁXIMAS EXTRAÍDAS DO ENSINAMENTO DOS ESPÍRITOS
35. O objetivo essencial do Espiritismo é o melhoramento dos homens. Não é preciso procurar nele senão o que pode ajudá-lo para o progresso moral e intelectual.
36. O verdadeiro Espírita não é o que crê nas manifestações, mas aquele que faz bom proveito do ensinamento dado pelos Espíritos. Nada adianta acreditar se a crença não faz com que se dê um passo adiante no caminho do progresso e que não o faça melhor para com o próximo.
37. O egoísmo, o orgulho, a vaidade, a ambição, a cupidez, o ódio, a inveja, o ciúme, a maledicência são para a alma ervas venenosas das quais é preciso a cada dia arrancar algumas hastes, e que têm como contraveneno: a caridade e a humildade.
38. A crença no Espiritismo só é proveitosa para aquele de quem se pode dizer: hoje está melhor do que ontem.
39. A importância que o homem atribui aos bens temporais está na razão inversa de sua fé na vida espiritual; é a dúvida sobre o futuro que o leva a procurar suas alegrias neste mundo, satisfazendo suas paixões, ainda que às custas do próximo.
40. As aflições na terra são os remédios da alma; elas salvam para o futuro, como uma operação cirúrgica dolorosa salva a vida de um doente e lhe devolve a saúde. É por isso que o Cristo disse: "Bem-aventurados os aflitos, pois eles serão consolados."
41. Nas suas aflições, olhe abaixo de você e não acima; pense naqueles que sofrem ainda mais que você.
42. O desespero é natural para aquele que crê que tudo acaba com a vida do corpo; é um contra-senso para aquele que tem fé no futuro.
43. O homem é muitas vezes o artesão de sua própria infelicidade neste mundo; se ele voltar à fonte de seus infortúnios, verá que a maior parte deles são o resultado de sua imprevidência, de seu orgutho e avidez, conseqüentemente, de sua infração às leis de Deus.
44. A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar Nele; é aproximar-se Dele; é pôr-se em comunicação com Ele.
45. Aquele que ora com fervor e confiança é mais forte contra as tentações do mal, e Deus envia-lhe bons Espíritos para assisti-lo. É um auxílio que nunca é recusado, quando é pedido com sinceridade.
46. O essencial não é orar muito, mas orar bem. Certas pessoas crêem que todo o mérito está na extensão da prece, enquanto fecham os olhos para seus próprios defeitos. A prece é para eles uma ocupação, um emprego do tempo, mas não uma análise de si mesmos.
47. Aquele que pede a Deus o perdão de seus erros não o obtém senão mudando de conduta. As boas ações são a melhor das preces, pois os atos valem mais que as palavras.
48. A prece é recomendada por todos os bons Espíritos; é, além disso, pedida por todos os Espíritas imperfeitos como um meio de tornar mais leves seus sofrimentos.
49. A prece não pode mudar os desígnios da Providência; mas, vendo que há interesse por eles, os Espíritos sofredores se sentem menos desamparados; tornam-se menos infelizes; ela exalta sua coragem, estimula neles o desejo de elevar-se pelo arrependimento e reparação, e pode desvia-los do pensamento do mal. É nesse sentido que ela pode não só aliviar, mas abreviar seus sofrimentos.
50. Cada um ore segundo suas convicções e o modo que acredita mais conveniente, pois a forma não é nada, o pensamento é tudo; a sinceridade e a pureza de intenção é o essencial; um bom pensamento vale mais que numerosas palavras, que se assemelham ao barulho de um moinho e onde o coração não está.
51. Deus fez homens fortes e poderosos para que fossem sustentáculos dos fracos; o forte que oprime o fraco é advertido por Deus; em geral ele recebe o castigo nesta vida, sem prejuízo do futuro.
52. A fortuna é um depósito cujo possuidor é tão-somente o usufrutuário, já que não a leva com ele para o túmulo; ele prestará rigorosas contas do emprego que fez dela.
53. A fortuna é uma prova mais arriscada que a miséria, porque é uma tentação para o abuso e os excessos, e porque é mais difícil ser moderado que ser resignado.
54. O ambicioso que triunfa e o rico que se sustenta de prazeres materiais são mais de se lamentar que de se invejar, pois é preciso ter em conta o retorno. O Espiritismo, pelos terríveis exemplos dos que viveram e que vêm revelar sua sorte, mostra a verdade desta afirmação do Cristo: "Aquele que se orgulha será humilhado e aquele que se humilha será elevado."
55. A caridade é a lei suprema do Cristo: "Amem-se uns aos outros como irmãos; - ame seu próximo como a si mesmo; perdoe seus inimigos; - não faça a outrem o que não gostaria que lhe fizessem"; tudo isso se resume na palavra caridade.
56. A caridade não está só na esmola pois há a caridade em pensamentos, em palavras e em ações. Aquele caridoso em pensamentos, é indulgente para com as faltas do próximo; caridoso em palavras, não diz nada que possa prejudicar seu próximo; caridoso em ações, assiste seu próximo na medida de suas forças.
57. O pobre que divide seu pedaço de pão com um mais pobre que ele é mais caridoso e tem mais mérito aos olhos de Deus que o que dá o que lhe é superfluo, sem se privar de nada.
58. Aquele que nutre contra seu próximo sentimentos de animosidade, ódio, ciúme e rancor, falta à caridade; ele mente, se se diz cristão, e ofende a Deus.
59. Homens de todas as castas, de todas as seitas e de todas as cores, vocês são todos irmãos, pois Deus os chama a todos para ele; estendam-se pois as mãos, qualquer que seja sua maneira de adorá-lo, e não atirem o anátema, pois o anátema é a violação da lei de caridade proclamada pelo Cristo.
60. Com o egoísmo, os homens estão em luta perpétua; com a caridade, estarão em paz. A caridade, constituindo a base de suas instituições, pode assim, por si só, garantir a felicidade deles neste mundo; segundo as palavras do Cristo, só ela pode também garantir sua felicidade futura, pois encerra implicitamente todas as virtudes que podem levá-los à perfeição. Com a verdadeira caridade, tal como a ensinou e praticou o Cristo, não mais o egoísmo, o orgulho, o ódio, a inveja, a maledicência; não mais o apego desordenado aos bens deste mundo. É por isso que o Espiritismo cristão tem como máxima: FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.
Incrédulos! Podeis rir dos Espíritos, zombar daqueles que crêem em suas manifestações; ride, pois, se ousardes, desta máxima que eles acabaram de professar e que é sua própria salvaguarda, pois se a caridade desaparecesse da terra, os homens se entredilacerariam, e talvez vocês fossem as primeiras vítimas. Não está longe o tempo em que esta máxima, proclamada abertamente em nome dos Espíritos, será uma garantia de segurança e um título à confiança, naqueles que a trouxerem gravada no coração.

Lins de Vasconcelos

Arthur Lins de Vasconcelos Lopes
21/03/1952
"Contribuiu largamente para a expansão do Espiritismo no Brasil."

Em 21 de março de 1952, desencarnava na cidade de São Paulo, onde residia, o Dr. Arthur Lins de Vasconcellos Lopes, sendo o seu corpo sepultado, conforme seus desejos, no jardim do Sanatório "Bom Retiro", em Curitiba, cidade que muito amou.
Contribuiu largamente para a expansão do Espiritismo no Brasil.
Levantou e apoiou inúmeras obras de caridade e beneficência, nas quais até hoje lhe abençoam o nome, devendo-se-lhe o prédio onde se acha instalada a Federação Espírita Paraibana.
Desenvolveu obra de assistência social, sem paralelo no meio espírita nacional. Pacificador por excelência, padrão do verdadeiro homem de bem, tolerante em todos os sentidos, foi alçado à posição de líder pelos próprios espíritas brasileiros.
Tornou-se um dos que mais concorreram para a concretização do célebre "Pacto Áureo", em 5 de outubro de 1949, o qual efetivou a unificação tão ardentemente desejada pelo movimento espírita brasileiro. Sua existência foi um impressionante libelo contra a ociosidade e o desânimo.
Sua vida terrena teve início no dia 27 de março de 1891, na cidade de Teixeira, alto sertão da Paraíba do Norte. Era sertanejo. Conheceu nos primeiros anos da meninice as dificuldades dos que vivem afastados das grandes cidades, sem recursos.
Começou, assim, a lutar desde a infância, fortalecendo nos albores da vida o seu espírito empreendedor. Enquanto outras crianças brincavam, despreocupadas, ele limpava, à enxada, a plantação, ou roçava para a semeadura. Quando lhe sobrava tempo, aprendia a ler e a escrever.
Já rapazinho, veio a ser tropeiro, a demandar as serranias do sul do Estado. Moço feito, rumou para o Recife, onde exerceu atividade de caixeiro de casa comercial. Ali, porém, não ficou. Sentia-se atraído para as terras do sul do País, e é assim que se transfere para Curitiba, capital do Estado do Paraná, onde viveu longa parte de sua existência, e onde se entregou com todo o ardor ao estudo. Alistando-se no exército, foi servir no 3º Regimento de Infantaria (3º R.I.) sediado naquela Capital, formando no 18º Batalhão.
Em pouco tempo, pela sua dedicação e pelo seu esforço, alcançava o posto de sargento. Iniciou seus estudos superiores matriculando-se, em 1918, na Escola Superior de Agronomia de Curitiba, onde fez brilhantemente seu curso de engenheiro agrônomo. Se os que não precisam pensar nas despesas vultosas com estudos nem sempre fazem com facilidade a escalada do monte da sabedoria, imaginemos os que precisam pensar nos estudos e nos meios para custeá-los.
Outras vezes foi necessário gratificar outros camaradas de caserna, que não se preocupavam com os livros, para não perder as aulas da Faculdade. Mantendo desde moço uma independência religiosa, embora aceitando desde a infância a idéia da existência de Deus, Lins de Vasconcellos não se prendeu, nessa etapa da vida, a um conceito religioso definido...
Só um caminho poderia conduzi-lo à compreensão do porquê da vida, das desigualdades sociais, do desequilíbrio na organização humana, que provoca a desventura e a infelicidade dos seres; todas as indagações de seu espírito empreendedor seriam respondidas mais tarde, quando, pelas mãos carinhosas de Antonio Duarte Veloso – dedicado servidor da Causa Espírita -, conheceu as belezas incomparáveis da Doutrina Espírita, isto em 1912. Era a base segura que lhe faltava para suportar o gigantesco edifício de sua formação humanitária e altruística, ansiosa de ver a felicidade de todos os seus irmãos em Humanidade.
Em 1915, como secretário geral da Federação Espírita do Paraná, ele participava, com a alma em regozijo, da inauguração do Albergue Noturno daquela entidade, inauguração que contou com a presença do então Presidente do Estado, Sr. Carlos Cavalcanti de Albuquerque.
Em 1916, trabalhou ativamente no II Congresso Espírita Paranaense. Criada a "Revista do Espiritualismo", órgão da Sociedade Publicadora Kardecista do Paraná, Lins se tornou um dos seus diretores. Em seu último estágio em Curitiba, Lins de Vasconcellos fora elevado à posição de escrevente juramentado em certo tabelionato daquela cidade.
Exercia com probidade e competência suas funções, quando inesperadamente, se viu demitido. É que ele, na qualidade de presidente da Federação Espírita do Paraná, protestara contra ato inconstitucional do Governo do Estado, que doara terras para a instalação de dois bispados. O protesto de Lins de Vasconcellos foi secundado pelo do Prof. Dario Veloso, ilustre homem de letras e presidente do Instituto Néo-Pitagórico de Curitiba, bem como por outros livre-pensadores.
Lins de Vasconcellos sofre perseguição e muitos aborrecimentos, inclusive condenação judicial, mais tarde revogada pelo Tribunal. Embora desequilibrado em suas finanças, não caiu em desânimo. Possuído de alto tino comercial, lança-se ao comércio madeireiro. Começa a prosperar e a enriquecer.
Em 1930, resolve mudar-se para o Rio de Janeiro, e é nessa ocasião eleito presidente honorário da Federação Espírita do Paraná, pelos assinalados serviços a ela prestados. Os bens materiais multiplicam-se rapidamente em suas mãos.
Consolidada a sua posição social e financeira com a fundação da Companhia Pinheiro Indústria e Comércio, da qual era diretor-presidente, não tendo dali por diante maiores preocupações de ordem econômica, mercê de uma independência que conquistara com sua visão de industrial operoso, dedicou-se inteiramente ao Espiritismo, a este dando tudo que lhe foi possível dar. Sua cooperação humanitária, junto aos companheiros espíritas de vários Estados, foi multiforme: nos movimentos educativos da criança, no socorro às instituições de amparo à velhice e à infância abandonada, no empenho para a criação de Lares Infantis, Sanatórios, Hospitais, Ginásios, Creches, Institutos de Ensino, etc., tudo em benefício do indivíduo e da coletividade, num trabalho contínuo que durou até aos seus últimos dias de vida terrena.
"A maior glória de Lins" - escreveu um seu biógrafo – "é não ter sido ele corrompido pelo fascínio do ouro".
Cremos tenha sido a Federação Espírita do Paraná a primeira entidade a receber sua colaboração doutrinária e econômica. Quando na sua presidência, traçou um longo programa de realizações em todos os setores de atividade daquela Instituição Estadual, nela incluindo, então, o programa de ensino do Espiritismo às crianças, antevendo a necessidade de prepará-las, para que investidas, no futuro, nas organizações espíritas, pudessem produzir mais e melhor.
Por volta de 1938, em passeio a Curitiba e presente à reunião do Conselho da Federação Espírita do Paraná, Lins de Vasconcellos propôs-se entrar com apreciável soma de recursos para o reinicio das obras do atual Hospital Espírita de Psiquiatria “Bom Retiro”, tendo mantido sua colaboração econômica até a inauguração do mesmo. Participou ativamente da Coligação Nacional pró Estado Leigo, da qual foi presidente, dedicando-lhe todos os esforços para que a luta pela laicidade do Estado fosse uma batalha constante até à conquista da independência da nação na questão do campo religioso.
Em 1948, quando a "Gráfica Mundo Espírita" enfrentava uma crise seríssima, sua cooperação espontânea e sincera veio evitar o desaparecimento dela, e, assumindo a sua direção, enfrentou todas as dificuldades decorrentes de sua atitude salvadora. Imprimiu nova orientação doutrinária a "Mundo Espírita", periódico fundado em 1932, evitando que suas colunas servissem de veículo de idéias destruidoras e separativistas. Apesar dos grandes prejuízos causados pela publicação do jornal e de livros doutrinários, ele sustentou a luta e esteve à frente de "Mundo Espírita" até aos últimos momentos.
Esse jornal passou a ser o órgão noticioso e doutrinário da Federação Espírita do Paraná. Ainda em 1948 empenhou-se na realização do I Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil, apoiando a idéia do Deputado Campos Vergal, transformada em realidade pela atuação de Leopoldo Machado.
Foi uma de suas principais figuras, contribuindo, ainda, decisivamente na parte financeira. Por unanimidade, foi proclamado seu presidente de honra e, na sessão de instalação, na manhã do dia 18 de junho de 1948, proferiu discurso, fazendo a entrega simbólica do Congresso aos moços espíritas ali reunidos. Em fevereiro de 1949, fundou Lins de Vasconcellos a Ação Social Espírita – sonho maior de sua vida – instituição que se destinava ao trabalho social do Espiritismo em todos os seus aspectos e sob todas as formas. Graças ao seu espírito de colaboração e boa vontade, realizou-se a Primeira Festa Nacional do Livro Espírita, de 14 a 18 de abril de 1949.
Quando dos preparativos para a realização do II Congresso Espírita Pan-Americano, que se reuniu no Rio de Janeiro, no período de 3 a 12 de outubro de 1949, foi Lins de Vasconcellos chamado para participar da Comissão Organizadora, sendo-lhe entregue o cargo de Tesoureiro da Comissão, devendo-se ressaltar que da sua ação coordenadora e sensata deve-se o êxito alcançado por aquele certame.
A unificação da família espírita brasileira viria, mais cedo ou mais tarde, se essa era a vontade superior. Mas, talvez não viesse tão depressa, não fosse a ação e a atividade conciliatória e aproximativa de Lins de Vasconcellos. Ninguém, como ele, almejava reunir os seus irmãos em ideal para um trabalho em comum.
Esse foi sempre seu grande sonho. Vivia para concretizar esse desejo e os mentores espirituais fizeram-no o instrumento sensato e prudente para que essa aproximação se desse.
Em 5 de outubro de 1949 foi, talvez o dia mais feliz da sua vida. Foi o dia do "Pacto Áureo", o dia áureo da confraternização. Se nada mais houvesse feito em prol da Causa –e foram tantos os benefícios que prestou ao Espiritismo – sua ação para a união da família espírita brasileira, em torno da Casa de Ismael, lhe teria valido como uma certeza de que não fora vazia e inexpressiva sua vida no mundo.
Era ainda o Dr. Lins, no campo das atividades doutrinárias, representante da Federação Espírita do Paraná, no Conselho Federativo Nacional, membro efetivo da Assembléia Deliberativa da Federação Espírita Brasileira, vice-presidente da Liga Espírita do Estado da Guanabara, 1º Secretário da Sociedade de Medicina e Espiritismo do Rio de Janeiro e seu presidente de honra.
Não se pode dispensar a colaboração da mulher nas grandes Causas. Todos os grandes homens tiveram em suas vidas a influência da mulher.
Lins de Vasconcellos não foi uma exceção à regra. Nada realizava sem que ouvisse sua esposa. Fazia questão que em tudo aparecesse aquela que partilhava de sua vida e conhecia as suas aspirações e desejos. E a esposa dedicada que foi Dona Hercilia César de Vasconcellos Lopes retribuía-lhe essa justa consideração com o seu carinho e a sua afeição.
Compreendia ele o papel da mulher na reforma do mundo e, sempre que se lhe oferecia oportunidade, concitava os homens ao amparo e proteção à mulher e à criança. E a Companheira de longos anos de luta e realizações soube enfrentar o momento da partida do ente amado, demonstrando, na serenidade a resignação, que estava bem à altura do querido ausente.
Toda a família espírita sentiu o seu desaparecimento da vida física, em 21 de março de 1952, ficando a Seara do Senhor, no campo terreno, desfalcada de um de seus mais denodados e dedicados servidores.
Respeitáveis nomes do Espiritismo no Brasil teceram longos e justos elogios à obra do benfeitor e do homem de ação, ouvindo-se, ainda, a palavra do grande médium brasileiro, Francisco Cândido Xavier, nessa afirmativa: "Era ele uma coluna firme da doutrina em nosso País e um companheiro abnegado de nosso movimento de unificação". Mais tarde, a Federação Espírita do Paraná, que tantos benefícios recebeu de Lins de Vasconcellos, inclusive através de testamento, prestou-lhe significativa homenagem, dando-lhe o inesquecível nome ao educandário por ela criado – "Instituto Lins de Vasconcellos", - hoje, Colégio "Lins de Vasconcellos".
Para mais detalhes consultar o livro "Lins de Vasconcellos - o diplomata da unificação e o paladino do Estado leigo" de autoria de Ney Lobo, editado pela Federação Espírita do Paraná.

Linha do Tempo - Décadas 20 e 30

02/10/1920 Fundação do Centro Espírita União e Caridade, em Paraíba do Sul, RJ.
06/03/1921 O Grêmio Espírita "Nazareno" inicia a Evangelização para Infância, organizada por Vianna de Carvalho, Moreira Guimarães e Luiz de Oliveira.
28/04/1921 Materializa-se o Espírito Rachel Figner, em presença do pai, Frederico Figner, pela mediunidade de Anna Prado.
22/10/1922 Fundação do Lar Anália Franco, no Rio de Janeiro, RJ, sendo fundador e primeiro Presidente Francisco Antônio Bastos.
23/04/1923 Desencarna a médium Anna Prado. O escritor espírita Raymundo Nogueira de Faria, no seu livro “O Trabalho dos Mortos”, editado pela FEB, detalha os fenômenos de efeitos físicos nos quais Anna Prado era o agente mediúnico.
01/10/1923 Fundada em Buenos Aires, a revista La Idea.
10/11/1923 Nascimento do médium João Nunes Maia.
14/07/1924 Desencarne de Gustav Geley; fundou o Instituto Metapsíquico Internacional..
15/02/1925 Cairbar Schutel lança a “Revista Internacional de Espiritismo”.
15/05/1925 Realiza-se em Lisboa o 1o. Congresso Espírita Português.
03/06/1925 Desencarne de Camille Flammarion, astrônomo famoso em sua época, espírita, colaborador de Kardec, tendo pronunciado emocionante discurso fúnebre junto à tumba do Mestre. A Federação Espírita Brasileira publica algumas de suas obras, entre as quais, Deus na Natureza.
09/07/1925 Desencarne de Aristides de Souza Spínola, que ocupou a presidência da Federação Espírita Brasileira.
19/07/1925 É fundado do Rio de Janeiro o Grupo Espírita Vicente de Paulo, hoje, com sede própria na Rua Nossa Senhora das Graças, 364 no bairro de Ramos.
15/02/1926 Desencarna Gabriel Delanne. A Federação Espírita Brasileira publica seus livros que abordam o aspecto científico da Doutrina: “A Alma é Imortal”, “O Espiritismo Perante a Ciência”, “A Evolução Anímica”, “O Fenômeno Espírita”, “A Reencarnação”.
07/04/1926 Apresentado no Senado dos Estados Unidos, um projeto de lei de autoria do senador James L. Whitley, dando aos médiuns o direito de exercerem livremente os seus dons mediúnicos.
29/07/1926 Fundação do Centro Espírita "Francisco de Jesus Vernetti", em Pelotas, RS.
31/08/1926 Fundada em Lisboa Portugal a federação Espírita Portuguesa.
16/09/1926 Fundação do Centro Espírita de Caridade Maria Eterna, em Nilópolis, RJ.
25/09/1926 Tem início o 1o. Congresso Brasileiro de Homeopatia, sob a presidência do Dr. Dias da Cruz.
25/09/1926 O Dr. Dias da Cruz preside o 1o. Congresso Brasileiro de Homeopatia.
13/10/1926 Desencarne de Miguel Viana de Carvalho, militar e grande tribuno espírita.
17/02/1927 Desencarna o grande mestre João Henrique Pestalozzi. Allan Kardec foi seu discípulo.
02/03/1927 Surge a revista “Light”, publicada pela Aliança Espírita de Londres.
12/04/1927 Desencarna o “Filósofo da Doutrina Espírita”, o francês Leon Denis. A Federação Espírita Brasileira publica várias de suas obras, entre as quais: “Depois da Morte”; “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”; “Cristianismo e Espiritismo”; “No Invisível”; “O Porquê da Vida”; “O Grande
05/05/1927 Nasce em Feira de Santana, Bahia, Divaldo Pereira Franco. Fundador da Mansão do Caminho, médium psicógrafo e tribuno, com mais de cem livros publicados, que garantem suas obras assistenciais.
26/02/1928 Desencarna Henri Sausse, biógrafo de Allan Kardec.
09/05/1928 Desencarna um dos fundadores da FEB, Léo Quádrio.
25/07/1928 Nascimento do médium, orador e escritor espírita Newton Boechat. Escreveu, entre outros, o livro “O Espinho da Insatisfação”.
12/02/1929 Desencarna o pesquisador da mediunidade de efeitos físicos, Albert von Scherenck-Notzing.
19/05/1929 É fundado o Centro Espírita Terezinha de Jesus, tendo como um dos seus fundadores o Senhor Sebastião Borges, médium receitista.
27/02/1930 R. Lambert traduziu para o alemão as obras de Charles Richet e publicou o resultado de suas experiências com o médium clarividente Fred Marion, de Stuttgart, Alemanha.
07/07/1930 Desencarne de Arthur Conan Doyle, criador do famoso detetive Sherlock Holmes. Adepto do Espiritismo, Conan Doyle escreveu “A História do Espiritismo”.
14/08/1930 Realizado o 1o. Congresso Espírita da Bélgica.
30/09/1930 Fundação da Federação Espírita do Estado do Maranhão, em São Luiz, MA.
05/11/1930 É fundada a Federação Espírita Sergipana.
13/04/1931 Desencarna o fundador do Instituto Metapsíquico Internacional, Jean Louis Mayer.
04/04/1932 Publicado o primeiro número do jornal Mundo Espírita, no Rio de Janeiro - RJ, sob direção de Henrique Andrade, jornal depois transferido para a Federação Espírita do Paraná.
06/07/1932 Aparece a primeira edição do livro “Parnaso de Além Túmulo”, pela mediunidade de Chico Xavier.
24/02/1934 Realiza-se expressiva manifestação da "Coligação Nacional Pró-Estado Leigo", coordenada pelo Dr. Lins de Vasconcelos, pela liberdade de Culto do Brasil.
07/05/1934 Pelo Decreto-Lei 4.765, a Federação Espírita Brasileira é considerada de utilidade pública.
23/09/1934 Fundação da Cruzada Espírita Discípulos de Allan Kardec, em Duque de Caxias, RJ.
05/12/1934 Desencarna Humberto de Campos Veras, no Rio de Janeiro-RJ, escritor e deputado estadual, membro da Academia Brasileira de Letras (1920), tendo ditado vários livros como Espírito através do médium Chico Xavier.
04/12/1935 Desencarna o cientista e pesquisador dos fenômenos espíritas Charles Robert Richet, Prêmio Nobel de Medicina e de Fisiologia, no ano de 1913, pai da Metapsíquica, defensor do Espiritismo
08/02/1936 Desencarna em 1936 o Sr. Manoel Porteiro, colaborador do movimento espírita na América do Sul.
12/07/1936 É fundada nesta data a Federação Espírita do Estado de São Paulo.
19/08/1936 Lançado o primeiro programa espírita radiofônico do Brasil, por Caibar Schutel, em Araraquara SP.
04/11/1936 Fundação do Centro Espírita "Reencarnação", na Colônia de Marituba, Belém, PA.
12/11/1936 Abertura do 9º Congresso Brasileiro de Esperanto, de 12 a 17, com a participação de Ismael Gomes Braga e Carlos Imbassahy.
12/01/1937 Fundação da Instituição Social Olímpia Belém, no Rio de Janeiro, RJ, de amparo a meninas órfãs.
07/03/1937 Fundação dda Aliança Espírita de Propaganda e Caridade, em São Paulo, SP, tendo como fundadores Sebastião Moggi da Fonseca e Luiz Gomes da Silva.
30/09/1937 Desencarne do Dr. Dias da Cruz, médico homeopata, presidente da Federação Espírita Brasileira.
27/10/1937 Numa ação arbitrária da policia, sem qualquer justificativa, a FEB é fechada por um período de 3 dias.
30/01/1938 Desencarna Cairbar de Souza Schutel. Fundador do jornal “O Clarim” e da “Revista Internacional de Espiritismo”.
08/03/1938 Desencarna Sebastião Paraná de Sá, fundador da Federação Espírita do Estado do Paraná.
08/07/1938 A revista norte-americana "The Two Worlds" publica mensagem de Caírbar Schutel, através da médium inglesa Mary Wood, com recado fraterno ao seu amigo português Frederico Duarte.
11/10/1938 Ruth Sant'Anna funda o Grupo da Fraternidade Irmão Lázaro, no Rio de Janeiro, RJ.
05/03/1939 Fundação do Centro Espírita Bezerra de Menezes, no Rio de Janeiro, RJ, tendo como fundador e 1º Presidente o Prof. Arnaldo Claro de S. Thiago.
25/03/1939 Desencarna José Petitinga ( José Florentino de Sena ), fundador da União Espírita da Bahia.
06/05/1939 Inaugurada a nova sede da "Union Spirite Francaise", em Tours, França.
15/11/1939 Tem início o 1o. Congresso Brasileiro de Jornalistas Espíritas no Rio de Janeiro.

Bezerra de Menezes

Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, conhecido popularmente como Dr. Bezerra de Menezes ou simplesmente Bezerra de Menezes (Riacho do Sangue, actual Jaguaretama, 29 de Agosto de 1831 — Rio de Janeiro, 11 de Abril de 1900), foi um médico, militar, escritor, jornalista, político e expoente da Doutrina Espírita no Brasil.

Biografia

Infância e juventude:

Descendente de antiga família de fazendeiros de criação, ligada à política e ao militarismo na Província do Ceará, era filho de Antônio Bezerra de Menezes (tenente-coronel da Guarda Nacional) e de Fabiana de Jesus Maria Bezerra.

Em 1838, aos sete anos de idade, ingressou na escola pública da Vila Frade (adjacente ao Riacho do Sangue), onde, em dez meses, aprendeu os princípios da educação elementar.

Em 1842, como consequência de perseguições políticas e dificuldades financeiras, a sua família mudou-se para a antiga vila de Maioridade (serra do Martins), no Rio Grande do Norte, onde o jovem, então com onze anos de idade, foi matriculado na aula pública de Latim. Em dois anos já substituía o professor em classe, em seus impedimentos.

Em 1846, a família retornou à Província do Ceará, fixando residência na capital, Fortaleza. O jovem foi matriculado no Liceu do Ceará, onde concluiu os estudos preparatórios.

A carreira na Medicina:

Em 1851, ano de falecimento de seu pai, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde, naquele mesmo ano, iniciou os estudos de Medicina na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

No ano seguinte (1852), ingressou como praticante interno ("residente") no hospital da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Para prover os seus estudos, dava aulas particulares de Filosofia e Matemática.

Obteve o doutoramento (graduação) em 1856, com a defesa da tese: "Diagnóstico do cancro". Por essa altura, abandonou o último patronímico e modificou o "s" de Meneses para "z", passando a assinar-se simplesmente como Adolfo Bezerra de Menezes. Nesse ano, o Governo Imperial decretou a reforma do Corpo de Saúde do Exército Brasileiro, e nomeou para chefiá-lo, como Cirurgião-mor, o Dr. Manuel Feliciano Pereira Carvalho, antigo professor de Bezerra de Menezes, e que o convidou para trabalhar como seu assistente.

A 27 de Abril de 1857 candidatou-se ao quadro de membros titulares da Academia Imperial de Medicina com a memória "Algumas considerações sobre o cancro, encarado pelo lado do seu tratamento". O académico José Pereira Rego leu o parecer na sessão de 11 de Maio, tendo a eleição transcorrido na de 18 de Maio e a posse na de 1 de Junho do mesmo ano.

Em 1858 candidatou-se a uma vaga de lente substituto da Secção de Cirurgia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Nesse ano saiu a sua nomeação oficial como assistente do Corpo de Saúde do Exército, no posto de Capitão-tenente e, a 6 de Novembro, desposou Maria Cândida de Lacerda, que viria a falecer de mal súbito em 24 de Março de 1863, deixando-lhe dois filhos, um de três e outro de um ano de idade.

No período de 1859 a 1861 exerceu a função de redactor dos Anais Brasilienses de Medicina, periódico da Academia Imperial de Medicina.

Em 1865 desposou, em segundas núpcias, Cândida Augusta de Lacerda Machado, irmã por parte de mãe de sua primeira esposa, e que cuidava de seus filhos até então, com quem teve mais sete filhos.

Trajetória política:

Nesse período a Câmara Municipal do Município Neutro tinha como presidente Roberto Jorge Haddock Lobo, do Partido Conservador. Ao mesmo tempo, Bezerra de Menezes já se notabilizara pela actuação profissional e pelo trabalho voltado à população carente. Desse modo, em 1860, em uma reunião política, alguns amigos levantaram a candidatura de Bezerra de Menezes, pelo Partido Liberal, como representante da paróquia de São Cristóvão, onde então residia, à Câmara. Ciente da indicação, Bezerra recusou-a inicialmente, mas, por insistência, acabou se comprometendo apenas em não fazer uma declaração pública de recusa dos votos que lhe fossem outorgados.

Abertas as urnas e apurados os votos, Bezerra fora eleito. Os seus adversários, liderados por Haddock Lobo, impugnaram a posse sob o argumento de que militares de Segunda Classe não podiam exercer o cargo de Vereador. Desse modo, para apoiar o Partido, que necessitava dele para obter a maioria na Câmara, decidiu requerer exoneração do Corpo de Saúde (26 de Março de 1861). Desfeito o impedimento, foi empossado no mesmo ano.

Foi reeleito vereador da Câmara Municipal do Município Neutro para o período de 1864 a 1868.

Foi eleito deputado Provincial pelo Rio de Janeiro em 1866, apesar da oposição do então primeiro-ministro Zacarias de Góis e dos chefes liberais - senador Bernardo de Souza Franco (visconde de Souza Franco) e deputado Francisco Otaviano de Almeida Rosa. Empossado em 1867, a Câmara dos Deputados foi dissolvida no ano seguinte (1868), devido à ascensão do Partido Conservador.

Retornou à política como vereador no período de 1873 a 1885, ocupando várias vezes as funções de presidente interino da Câmara Municipal, efectivando-se em Julho de 1878, cargo que corresponderia actualmente ao de Prefeito.

Foi eleito deputado geral pela Província do Rio de Janeiro no período de 1877 a 1885, ano em que encerrou a sua carreira política. Neste período acumulou o exercício da presidência da Câmara e do Poder Executivo Municipal. Foi membro, a partir de 1882, das Comissões de Obras Públicas, Redação e Orçamento.

Vida empresarial:

Foi sócio fundador da Companhia Estrada de Ferro Macaé e Campos (1870). Empenhou-se na construção da Estrada de Ferro Santo Antônio de Pádua, pretendendo estendê-la até ao rio Doce, projecto que não conseguiu concretizar (c. 1872). Foi um dos directores da Companhia Arquitetônica de Vila Isabel, fundada em Outubro de 1873 por João Batista Viana Drummond (depois barão de Drummond) para empreender a urbanização do bairro de Vila Isabel. Em 1875, foi presidente da Companhia Ferro-Carril de São Cristóvão, período em que os trilhos da empresa alcançavam os bairros do Caju e da Tijuca.

Militância intelectual:

Durante a campanha abolicionista publicou o ensaio "A escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extingui-la sem danos para a Nação" (1869). Expôs os problemas de sua região natal em outro ensaio publicado, "Breves considerações sobre as secas do Norte" (1877). Alguns indicam que foi autor de biografias sobre o visconde do Uruguai e o visconde de Caravelas, personalidades ilustres do Império do Brasil. Foi redactor de "A Reforma", órgão liberal no Município Neutro, e, de 1869 a 1870, redactor do jornal "Sentinela da Liberdade".

Militância espírita:

Conheceu a Doutrina Espírita quando do lançamento da tradução em língua portuguesa de O Livro dos Espíritos (sem data, em 1875), através de um exemplar que lhe foi oferecido com dedicatória pelo seu tradutor, Dr. Joaquim Carlos Travassos. Sobre o contacto com a obra, o próprio Bezerra registrou posteriormente:

"Deu-mo na cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde. Embarquei com o livro e, como não tinha distracção para a longa viagem, disse comigo: ora, Deus! Não hei de ir para o inferno por ler isto… Depois, é ridículo confessar-me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi-me a ele, como acontecera com a Bíblia. Lia. Mas não encontrava nada que fosse novo para meu Espírito. Entretanto, tudo aquilo era novo para mim!… Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no 'O Livro dos Espíritos'. Preocupei- me seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, mesmo como se diz vulgarmente, de nascença."
Com o lançamento do periódico Reformador, por Augusto Elias da Silva em 1883, passou a colaborar com a redacção de artigos doutrinários.

Após estudar por alguns anos as obras de Allan Kardec, em 16 de Agosto de 1886, aos cinquenta e cinco anos de idade, perante grande público (estimado, conforme os seus biógrafos, entre mil e quinhentas e duas mil pessoas) no salão de conferências da Guarda Velha, no Rio de Janeiro, em longa alocução, justificou a sua opção em abraçar o Espiritismo. O evento chegou a ser referido em nota publicada pelo "O Paiz".

No ano seguinte, a pedido da Comissão de Propaganda do Centro da União Espírita do Brasil, inicia a publicação de uma série de artigos sobre a Doutrina em O Paiz, periódico de maior circulação da época.[1] Com o nome de "Estudos Filosóficos - Espiritismo", os artigos saíram regularmente aos domingos, no período de 23 de Outubro de 1887 a Dezembro de 1893, assinados sob o pseudónimo "Max".[2]

Na década de 1880 o incipiente movimento espírita na capital (e no país) estava marcado pela dispersão de seus adeptos e das entidades em que se reuniam.[3] Havia, ainda, uma clara divisão entre os espíritas ditos "místicos" (defensores de uma visão religiosa da doutrina), e os chamados "científicos" (defensores de um olhar filosófico e científico).

Em 1889 Bezerra de Menezes foi percebido como o único capaz de superar as divisões, vindo a ser eleito presidente da Federação Espírita Brasileira. Nesse período, iniciou o estudo sistemático de "O Livro dos Espíritos" nas reuniões públicas das sextas-feiras, passando a redigir o Reformador; exerceu ainda a tarefa de doutrinador de espíritos obsessores. Organizou e presidiu um Congresso Espírita Nacional (Rio de Janeiro, 14 de Abril), com a presença de 34 delegações de instituições de diversos estados.[4] Assumiu a presidência do Centro da União Espírita do Brasil a 21 de Abril e, a 22 de Dezembro de 1890, oficiou ao então presidente da República, marechal Deodoro da Fonseca, em defesa dos direitos e da liberdade dos espíritas contra certos artigos do Código Penal brasileiro de 1890.[5]

De 1890 a 1891 foi vice-presidente da FEB na gestão de Francisco de Menezes Dias da Cruz, época em que traduziu o livro "Obras Póstumas" de Allan Kardec, publicado em 1892. Em fins de 1891, registravam-se importantes divergências internas entre os espíritas e fortes ataques ao exteriores ao movimento. Bezerra de Menezes afastou-se por algum tempo, continuando a frequentar as reuniões do Grupo Ismael e a redação dos artigos semanais em "O Paiz", que encerrou ao final de 1893. Aprofundando-se as discórdias na instituição, foi convidado em 1895 a reassumir a presidência da FEB (eleito em 3 de Agosto desse ano), função que exerceu até à data de seu falecimento. Nesta gestão iniciou o estudo semanal de "O Evangelho segundo o Espiritismo", fundou a primeira livraria espírita no país e ocorreu a vinculação da instituição ao Grupo Ismael e à Assistência aos Necessitados.

Foi em meio a grandes dificuldades financeiras que um acidente vascular cerebral o acometeu, na manhã de 11 de Abril de 1900. Não faltaram aqueles, pobres e ricos, que socorreram a família, liderados pelo Senador Quintino Bocaiúva. No dia seguinte, na primeira página de "O Paiz", foi lhe dedicado um longo necrológio, chamando-o de "eminente brasileiro". Recebeu ainda homenagem da Câmara Municipal do então Distrito Federal pela conduta e pelos serviços dignos.

Ao longo da vida acumulou inúmeros títulos de cidadania.

O "Kardec Brasileiro"

Pela atuação destacada no movimento espírita da capital brasileira no último quartel do século XIX, Bezerra de Menezes foi considerado um modelo para muitos adeptos da Doutrina. Destacam-lhe a índole caridosa, a perseverança, e a disposição amorosa para superar os desafios. Essas características, somadas à sua militância na divulgação e na reestruturação do movimento espírita no país, fizeram com que fosse considerado o "Kardec Brasileiro", numa homenagem devida ao papel de relevância que desempenhou. Muitos seguidores acreditam, ainda, que Bezerra de Menezes continua, em espírito, a orientar e influenciar o movimento espírita. É considerado patrono de centenas de instituições espíritas em todo o mundo.

Bezerra de Menezes: o filme

A vida de Bezerra de Menezes foi transposta para o cinema, na película "Bezerra de Menezes - O Diário de Um Espírito", com direção de Glauber Santos Paiva Filho e Joel Pimentel. O elenco é integrado por Carlos Vereza no papel título, Caio Blat e Paulo Goulart Filho, e com a participação especial de Lúcio Mauro. A produção foi orçada em 1,7 milhões de Reais, a cargo da Trio Filmes e Estação da Luz, com locações no Ceará, Pernambuco, Distrito Federal e Rio de Janeiro, tendo envolvido a mão-de-obra de uma equipe de cento e cinquenta pessoas. O lançamento do filme deu-se em 29 de Agosto de 2008.

Cronologia:

1831 (29 de Agosto): Nasceu Adolfo Bezerra de Menezes, em Riacho do Sangue (hoje Jaguaretama), Província do Ceará, filho de Antônio Bezerra de Menezes e Fabiana de Jesus Maria Bezerra.
1838: Ingressou na escola pública em Vila do Frade.
1842: Prosseguiu os seus estudos na Vila da Maioridade (serra do Martins, Rio Grande do Norte).
1844: Com 15 anos de idade substituiu, por vezes, o professor nas aulas de latim.
1846: Completou os estudos preparatórios no Liceu do Ceará.
1851 (5 de Fevereiro): Embarcou a para a Corte, a fim de fazer o curso de Medicina na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
1852 (Novembro): Ingressou como praticante interno ("residente") no hospital da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.
1856: Graduou-se em Medicina, obtendo, em todos os anos do curso, a nota "Optima cum Laude".
1857 (1 de Junho): Tomou posse como Sócio efectivo da Academia Imperial de Medicina.
1858: Foi nomeado assistente do Cirurgião-mor do Corpo de Saúde do Exército Brasileiro, no posto de Cirurgião-tenente.
1858 (6 de Novembro): Desposou Maria Cândida de Lacerda.
1859: Redactor dos Anais Brasilienses de Medicina, cargo que exerceu até 1861.
1860: Por insistência dos moradores da freguesia de São Cristóvão incluiu o seu nome na lista de candidatos a Vereador Municipal pelo Partido Liberal.
1861: Foi eleito para o cargo de Vereador, demitiu-se do Corpo de Saúde do Exército.
1863 (24 de Março): Faleceu a sua esposa, Maria Cândida de Lacerda, deixando-lhe dois filhos.
1864 Foi reeleito para o cargo de Vereador para o período 1864-1868.
1865 (21 de Janeiro): Desposou D. Cândida Augusta de Lacerda Machado, com quem teve sete filhos.
1867: Presidente interino da Câmara Municipal da Corte.
1867: Deputado Geral pelo Distrito da Corte.
1869: Sócio-fundador da Companhia Estrada de Ferro Macaé e Campos.
1873: Reeleito para o cargo de Vereador para o Distrito da Corte até 1881.
1875: Iniciou o estudo da Doutrina Espírita.
1877: Presidente interino da Câmara Municipal da Corte.
1878: Presidente efectivo da Câmara Municipal da Corte até 1881.
1878: Novamente Deputado Geral pelo Distrito da Corte até 1885.
1878: Inclusão de seu nome na lista Senatorial do Ceará.
1879: Homenagem dos súbditos portugueses residentes na Corte, que lhe ofertaram o seu retrato pintado a óleo, em tamanho natural, pelo pintor Augusto Rodrigues Duarte.
1885: Encerrou as suas actividades políticas no cargo de Presidente da Câmara Municipal e como Deputado Geral pelo Distrito da Corte.
1886 (16 de Agosto): proclamou, publicamente, a sua adesão ao Espiritismo.
1887: Iniciou, sob o pseudónimo de "Max", uma série de artigos de doutrina espírita no periódico O Paiz, dirigido por Quintino Bocaiúva, e no Reformador, órgão da Federação Espírita Brasileira.
1889: Presidente da Federação Espírita Brasileira e do Centro da União Espírita do Brasil.
1890: Vice-presidente da Federação Espírita Brasileira
1890: Representação em defesa do Espiritismo ao então Presidente da República, marechal Deodoro da Fonseca.
1891 - Vice-Presidente da Federação Espírita Brasileira
1891 (18 de Fevereiro) - Fundou o Grupo Espírita Regeneração
1891: Traduziu o livro Obras Póstumas de Allan Kardec, publicado em língua portuguesa em 1892.
1893: Representação em defesa do Espiritismo ao Congresso Nacional do Brasil.
1894: Director efectivo do Centro da União Espírita de Propaganda no Brasil.
1895: Presidente da Federação Espírita Brasileira.
1895: Reeleito Presidente da Federação Espírita Brasileira, cargo que exerceu até à data de sua morte.
1900 (11 de Abril): Faleceu, no Rio de Janeiro, às 11 horas e 30 minutos.


Instituições de que foi membro:

Efectivo da Academia Nacional de Medicina e honorário da Secção Cirúrgica.
Instituto Farmacêutico
Sociedade de Geografia de Lisboa
Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional
Sociedade Físico-Química
Sociedade Propagadora das Belas-Artes
Sociedade Beneficência Cearense (Presidente)
Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro (Conselheiro)
Companhia Carris Urbanos de São Cristóvão (Presidente)
Companhia Estrada de Ferro Macaé e Campos (Fundador)
Companhia Arquitetônica de Vila Isabel (Director)
Artigos e obras publicadas
1856 - "Diagnóstico do cancro"
1857 - "Algumas considerações sobre o cancro, encarado pelo lado do seu tratamento"
1869 - "A Escravidão no Brasil, e medidas que convém tomar para extingui-la sem dano para a Nação"
1877 - "Breves considerações sobre as secas do Norte"
"Algumas considerações sobre o cancro, encarado pelo lado do seu tratamento"
"Das operações reclamadas pelo estreitamento da uretra"
Biografia de Manuel Alves Branco, visconde de Caravelas
Biografia de Paulino José Soares de Souza, visconde do Uruguai
1892 - publicação da sua tradução de Obras Póstumas, de Allan Kardec
1902 - "A casa assombrada" (romance originalmente publicado no Reformador e, póstumamente, em livro, pela FEB)
1907 - "Espiritismo (Estudos Filosóficos)" (colectânea dos artigos publicados em O Paiz no período de 1877 a 1894, publicada pela FEB em três volumes)
1983 - "Os Carneiros de Panúrgio" (romance originalmente publicado no Reformador e, postumamente, em livro, pela FEESP)
1946 - "A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica" ou "Uma carta de Bezerra de Menezes" (réplica a seu irmão que lhe exprobrava a conversão ao Espiritismo, publicada postumamete, em livro, pela FEB)
1920 - "A Loucura sob novo prisma" (estudo etiológico sobre as perturbações mentais, publicado pela FEB)
"Casamento e mortalha" (romance, incompleto)
"Evangelho do Futuro"
"História de um Sonho"
"Lázaro, o Leproso"
"O Bandido"
"Os Mortos que Vivem"
"Pérola Negra"
"Segredos da Natura"
"Viagem através dos Séculos"

Principais obras e mensagens mediúnicas:

Através de Divaldo Pereira Franco, comunicações nas seguintes obras
1991 – "Compromissos Iluminativos" (coletânea de mensagens, ed. LEAL)
Através de Francisco Cândido Xavier, comunicações nas seguintes obras
1973 - "Bezerra, Chico e Você" (coletânea de mensagens, ed. GEEM)
1986 - "Apelos Cristãos" (coletânea de mensagens, ed. UEM)
"Nosso Livro"
"Cartas do Coração"
"Instruções Psicofônicas"
"O Espírito da Verdade"
"Relicário de Luz"
"Dicionário d'Alma"
"Antologia Mediúnica do Natal"
"Caminho Espírita"
"Luz no Lar"

Através de Francisco de Assis Periotto, comunicações nas seguintes obras
2001 - "Fluidos de Luz: ensinamentos de Bezerra de Menezes"
2002 - "Fluidos de Paz: ensinamentos de Bezerra de Menezes"
Através de Maria Cecília Paiva, comunicações nas seguintes obras
"Garimpos do Além" (coletânea de mensagens, ed. Instituto Maria).
Através de Waldo Vieira, comunicações nas seguintes obras
"Entre Irmãos de Outras Terras"
"Seareiros de Volta"
Através de Yvonne do Amaral Pereira, comunicações nas seguintes obras
1955 – "Nas Telas do Infinito" (1ª. Parte, romance, ed. FEB)
1957 – "A Tragédia de Santa Maria" (romance, ed. FEB)
1964 – "Dramas da Obsessão" (romance, ed. FEB)
1968 – "Recordações da Mediunidade" (relatos e orientações, ed. FEB)

Curiosidades:

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Em sua atuação como Deputado, destacam-se algumas iniciativas pioneiras: buscou, através de projeto de lei, regulamentar o trabalho doméstico, visando conceder a essa categoria, inclusive, o aviso prévio de 30 dias; denunciou os perigos da poluição que já naquela época afetava a população da cidade do Rio de Janeiro, promovendo providências para combatê-la.
Bezerra de Menezes deu o nome a uma das embarcações a vapor da Estrada de Ferro Macaé e Campos que, fretado à Companhia Terrestre e Marítima do Rio de Janeiro, naufragou em Angra dos Reis a 29 de Janeiro de 1891.[8] Não houve vítimas fatais.
Com relação ao aspecto missionário da vida de Bezerra de Menezes, o romance "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", de Chico Xavier, atribuído ao espírito de Humberto de Campos, afirma:
"Descerás às lutas terrestres com o objetivo de concentrar as nossas energias no país do Cruzeiro, dirigindo-as para o alvo sagrado dos nossos esforços. Arregimentarás todos os elementos dispersos, com as dedicações do teu espírito, a fim de que possamos criar o nosso núcleo de atividades espirituais, dentro dos elevados propósitos de reforma e regeneração." (op. cit., p. 179)
Foi homenageado em Anápolis (GO), em 1982, com o nome de uma escola de ensino fundamental - Escola de 1º Grau Bezerra de Menezes -, que atende a 200 alunos conveniados com a rede estadual de Goiás.

Notas:

1. Conforme o historiador espírita Silvino Canuto de Abreu. O cabeçalho do periódico, dirigido por Quintino Bocaiúva, afirmava ser o jornal de maior tiragem e circulação na América do Sul.
2. A série foi interrompida no Natal de 1893, ano de profunda convulsão na então Capital, devido à Revolta da Armada, momento em que foram encerradas todas as sociedades, espíritas ou não. De acordo com Canuto de Abreu, o conjunto desses artigos constitui-se no maior repertório da doutrina de Allan Kardec em língua portuguesa. A série não se iniciou com o material de Bezerra de Menezes, mas com dois artigos assinados por "Sedório", na Secção Livre do periódico: "A Doutrina Espírita", na edição de 9 de Outubro e "Os Fatos Espiríticos", a de 16 de Outubro. Em 1889 foi editada pelo Centro da União Espírita do Brasil uma série com 69 artigos publicados em O Paiz. Posteriormente, a FEB publicou uma série com 316 artigos, de 1887 até 1893, em livro (três volumes), sob o título "Espiritismo: estudos philosophicos", publicados na cidade do Porto, em Portugal, em 1907. Mais recentemente, o jornalista e político espírita José de Freitas Nobre reuniu os artigos de Bezerra de Menezes na grande imprensa, publicando-os pela EDICEL em três volumes, de 1977 a 1985, com o título de "Estudos Filosóficos".
3. Entre eles, destacavam-se na Corte, à época, a Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade (antiga Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade), o Grupo Espírita Fraternidade e o Centro da União Espírita do Brasil, além da própria Federação Espírita Brasileira.
4. Embora com participação relativamente reduzida, o encontro teve o mérito de reconhecer o sistema federativo, por preservar a autonomia das instituições que o integram, como o mais adequado à estruturação do movimento espírita no país.
5. O Código Penal de 1890 foi promulgado pelo Decreto nº 22.213, de 14 de Dezembro do mesmo ano, mas só entrou em vigor seis meses após a sua publicação. Os seus artigos nrs. 157 e 158 proibiam expressamente "praticar o Espiritismo" e "inculcar curas de moléstias curáveis ou incuráveis", o que afetava diretamente as atividades das sociedades espíritas, cuja prática de receituário mediúnico homeopático era muito difundida à época.

Aspectos em que o Espíritismo acrescenta-se ao Espiritualismo.

A saber:

a – concepção tríplice do homem: Espírito – Perispírito – Corpo Físico;

b – sobrevivência do Espírito como individualidade;

c – continuidade da responsabilidade individual;

d – progressividade do Espírito dentro do processo evolutivo em todos os níveis da natureza;

e – comunicação mediúnica disciplinada voltada para o esclarecimento e a consolação de encarnados e desencarnados;

f – volta do Espírito à matéria (reencarnação) tantas vezes quantas necessárias para alcançar a perfeição relativa a que se destina, não admitindo, no entanto, a metempsicose, ou seja, a volta do Espírito no corpo de animal para pagar dívidas, como aceita o Hinduísmo. Conforme o Espiritismo, o Espírito não retrograda;

g – ausência total de hierarquia sacerdotal;

h – abnegação na prática do bem, ou seja, não se dobra nada por esta ou aquela atividade espírita;

i – terminologia própria, como por exemplo, perispírito, Lei de Causa e Efeito, médium, Centro Espírita, e nunca corpo astral, karma, Exu, Orixá, "cavalo", "aparelho", "terreiro", "encosto", vocábulos utilizados por outras religiões e que não têm cabimento no meio espírita;

j – total ausência de culto material (imagens, altares, roupas especiais, oferendas, velas etc.);

l – na prática espírita não há batismo nem culto ou cerimônia para oficializar casamento;

m – respeito a todas as demais religiões, embora não incorpore a seu corpo doutrinário os princípios e rituais delas;

n – a moral espírita é a moral cristã: "Fazer ao próximo aquilo que dele se deseje".

Espiritismo e Espiritualismo

Espiritismo e Espiritualismo

É preciso saber que "todo espírita é necessariamente espiritualista, mas nem todos os espiritualistas são espíritas".

Espiritualismo é doutrina filosófica que admite a existência de Deus e da alma. Contrapõe-se ao materialismo, que só admite a matéria.

Espiritismo doutrina filosófica também espiritualista, mas que se diferencia das outras correntes filosóficas por ter características bem definidas.

A doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas. O Livro dos Espíritos, obra basilar do Espiritismo, como especialidade, contém a doutrina espírita; como generalidade, prende-se à doutrina espiritualista, uma de cujas fases apresenta. Essa é a razão porque traz no cabeçalho do seu título as palavras: Filosofia espiritualista.

Família Fox e o Advento do Espíritismo

Os fenômenos de Hydesville, ocorridos na casa da família Fox, abriram caminho para o advento do Espiritismo.

Em 11 de Dezembro de 1847, John Fox, pertencente à igreja Metodista, mudou-se para uma pequena casa de madeira no lugarejo de Hydesville, situada cerca de vinte milhas de Rochester, cidade do condado de Wayne, estado de Nova York.

John era fazendeiro e com sua família, que se compunha além da esposa Margareth Fox, de mais três filhas: Katherine, ou Katie ou Kate de onze anos; Margareth, de quatorze, e Leah, que residia em Rochester, onde lecionava música.

No ano seguinte, isto é, em 1848, mais exatamente na noite de 28 de março, as meninas começaram a ouvir estranhos ruídos e arranhões nas paredes, que se foram intensificando, cada vez mais ao ponto da família Fox não ter mais sossego dentro de casa. Esses "raps", como foram denominados mais tarde, começaram a ser notados, com mais freqüência. Com o decorrer dos dias, os fenômenos começaram a se tornar mais complexos: os objetos se deslocavam, tudo se mexia e estremecia, haviam explosões de sons fortes. As meninas diante de tanto barulho ficaram tão alarmadas que não queriam mais dormir sozinhas.

Nas três noites seguidas, até 31 de março de 1.848, os fenômenos se repetiram intensamente, impedindo que os Fox conciliassem o sono. John Fox deu buscas completas pelo interior e pelo exterior da casa, mas nada encontrou que explicasse as ocorrências.

Finalmente, na noite de 31 de Março de 1848, houve uma saraivada de sons muito altos e continuados. Kate Fox, na sua inocência de criança, desafiou a força invisível para que repetisse os estalos de seus dedos, no que foi imitada. Kate, batendo com os dedos sobre um móvel, exclamava em direção ao ponto onde os ruídos eram mais constantes: "Vamos Old Splitfood, faça o que eu faço". Prontamente as pancadas do "desconhecido" se fizeram ouvir, em igual número, e paravam quando a menina também parava.

Margareth brincando disse: " Agora faça o mesmo que eu: conte um, dois, três, quatro, e ao mesmo tempo dava pequenas pancadas com os dedos. Foi-lhe plenamente satisfeito esse pedido, deixando a todos estupefatos e com muito medo".

As meninas supunham tratar-se do demônio, por isso que o chamavam de "Mr. Splitfood", ou Senhor pé fendido, que corresponde a "pé de bode".

Depois sua mãe, que acompanhava o episódio, teve a idéia de fazer algumas perguntas; pediu que fosse indicado, por meios de pancadas, a idade de suas filhas. As resposta, corretas, não tardaram. E depois de um diálogo entre sons e golpes, estava assim estabelecida a telegrafia espiritual, naquela memorável noite de 31 de Março de 1848.

Naquela mesma noite, desejando que o fenômeno fosse testemunhado por outras pessoas, a família Fox chamou alguns vizinhos, que também fizeram perguntas e receberam respostas, por meio das batidas.

Esses acontecimentos se tornaram conhecidos de toda a localidade.

Um Senhor chamado Mr. Deusler idealizou um alfabeto, para poderem traduzir as pancadas e compreenderem o que dizia o batedor invisível, sendo que então ele contou a sua história:

Chamava-se Charles B. Rosma; fora um vendedor ambulante e, hospedado naquela casa, cinco anos antes, pelo casal Bell, foi ali assassinado. A finalidade do crime foi para roubar as mercadorias e o dinheiro que trazia, e que o seu corpo fora sepultado no porão.

Em busca no local indicado, lá encontraram tábuas, alcatrão, cal, cabelos, utensílios, mas não o esqueleto.

Uma criada dos Bells, chamada Lucrécia Pulver, declara que viu o vendedor e o descreve; diz que ele chegara à casa e comenta do seu misterioso desaparecimento. Uma vez, descendo à adega, seu pé enterrou-se num buraco e, como dissesse isso ao patrão, ele explicou que deviam ser ratos e foi, apressadamente, fazer os necessários reparos. Ela vira nas mãos dos patrões objetos da caixa do ambulante.

Arthur Conan Doyle, no seu Livro "História do Espiritismo", relata que 56 anos depois foi descoberto que alguém fora enterrado na adega da casa dos Fox. Ao ruir uma parede, crianças que pôr ali brincavam, descobriram um esqueleto. Os Bells, para maior segurança, haviam emparedado o corpo, na adega, aonde inicialmente o haviam enterrado.

Em 23 de novembro de 1.904, o "Boston Journal" noticiava que o esqueleto do homem que possivelmente produziu as batidas, ouvidas inicialmente pelas irmãs Fox, em 1.848, fora encontrado e as mesmas estavam, portanto, eximidas de qualquer dúvida com respeito à sinceridade delas na descoberta da comunicação dos Espíritos.

Diversas comissões se formaram na época dos acontecimentos com a finalidade de estudar os estranhos fenômenos e desmascarar a fraude atribuída às Fox. Verificou-se que eles ocorriam na presença das meninas; atribuiu-se-lhes o poder da mediunidade. Nenhuma comissão, todavia, conseguiu demonstrar que se tratava de fraude. Os fatos eram absolutamente verídicos embora tivessem submetido as meninas aos mais rigorosos e severos exames, atingindo, as vezes, as raias da brutalidade.

As irmãs Fox foram pressionadas. A Igreja as excomungou como pactuantes com o demônio. Foram acusadas de embusteiras, e ameaçadas fisicamente diversas vezes.

Em 1.888, ao comemorar os 40 anos dos fenômenos de Hydesville, Margareth Fox, iludida pôr promessas de favores pecuniários pelo Cardeal Maning, faz publicar uma reportagem no "New York Herald" em que afirma que os fenômenos que realizaram eram fraudulentos. Todavia, no anos seguinte, arrependida, reúne grande público no salão de música de New York e retrata-se de suas declarações anteriores, não só afirmando que os fenômenos de Hydesville eram reais, como provocando ainda uma série de fenômenos de efeitos físicos no salão repleto.

A retratação foi publicada na época. Consta da Light e do jornal americano, New York Press, de 20 de maio de 1.889.

Comunidades Shakers e Quakers

As comunidades dos shakers, nos EUA, ligados aos Quakers (Os quakers são um grupo religioso surgido na Inglaterra, em 1647, como uma dissidência da Igreja Anglicana. Inicialmente, a denominação escolhida pelo fundador do movimento, o sapateiro George Fox, foi Sociedade dos Amigos, inspirada no texto do Evangelho de João 15, 14), começaram a dar vazão nas comunicações, principiados por obsessões de vez em quando, de quase toda a comunidade. Vários espíritos de índios se comunicavam.
Os shakers contavam com um homem de notável inteligência, chamado F.W. Evans, que relatou vários fatos ao jornal "New York Daily Graphic" em 1874 e depois da primeira perturbação física e mental, causada pelo aparecimento daqueles espíritos (algumas obsessões), pôs-se a estudar o verdadeiro significado das ocorrências. Chegou à conclusão de que o assunto poderia ser dividida em 3 fases. A 1ª consistia em provar ao observador que a coisa era verdadeira. A 2ª era a fase da instrução, na qual mesmo o mais humilde espírito pode trazer informações de sua própria experiência pós-morte. A 3ª fase, dita missionária, era a sua aplicação prática.
Os shakers chegaram a conclusão de que os índios não tinham vindo ensinar, mas aprender. Assim catequizaram-nos como foi possível, exatamente como o teriam feito em vida (doutrinação).
Surgiu então um questionamento: Pôr que espíritos mais elevados não cuidavam desse ensino? A resposta dada a Conan Doyle foi: "Essa gente está muito mais próxima de vocês do que de nós. Vocês podem alcançá-los onde nós não podemos"
Doyle lembra também que outro fato curioso estabeleceu a ligação entre esses fenômenos: Andrew Jackson Davis, um conhecido médium norte-americano, em 6 de março de 1844, foi desdobrado do corpo físico e levado às montanhas de Catskill, a quarenta milhas de distância de sua casa, e ali encontrou-se com os Espíritos do médico grego Galeno e de Emmanuel Swedenborg. Quatro anos mais tarde escreveria uma nota profética no seu diário, em 31 de março de 1848, a mesma data dos eventos na residência da família Fox.